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terça-feira, 21 de dezembro de 2010

Metade




Que a força do medo que eu tenho,
não me impeça de ver o que anseio.

Que a morte de tudo o que acredito
não me tape os ouvidos e a boca.

Porque metade de mim é o que eu grito,
mas a outra metade é silêncio...

Que a música que eu ouço ao longe,
seja linda, ainda que triste...

Que a mulher que eu amo
seja para sempre amada
mesmo que distante.

Porque metade de mim é partida,
mas a outra metade é saudade.

Que as palavras que eu falo
não sejam ouvidas como prece
e nem repetidas com fervor,
apenas respeitadas,
como a única coisa que resta
a um homem inundado de sentimentos.

Porque metade de mim é o que ouço,
mas a outra metade é o que calo.

Que essa minha vontade de ir embora
se transforme na calma e na paz
que eu mereço.

E que essa tensão
que me corrói por dentro
seja um dia recompensada.

Porque metade de mim é o que eu penso,
mas a outra metade é um vulcão.

Que o medo da solidão se afaste
e que o convívio comigo mesmo
se torne ao menos suportável.

Que o espelho reflita em meu rosto,
um doce sorriso,
que me lembro ter dado na infância.

Porque metade de mim
é a lembrança do que fui,
a outra metade eu não sei.

Que não seja preciso
mais do que uma simples alegria
para me fazer aquietar o espírito.

E que o teu silêncio
me fale cada vez mais.

Porque metade de mim
é abrigo, mas a outra metade é cansaço.

Que a arte nos aponte uma resposta,
mesmo que ela não saiba.

E que ninguém a tente complicar
porque é preciso simplicidade
para fazê-la florescer.

Porque metade de mim é platéia
e a outra metade é canção.

E que a minha loucura seja perdoada.

Porque metade de mim é amor,
e a outra metade...
também.


(Ferreira Gullar)


sexta-feira, 17 de dezembro de 2010

E não quero ficar triste



Recuso-me a ficar triste. Sejamos alegres. Quem não tiver medo de ficar alegre e experimentar uma só vez sequer a alegria doida e profunda terá o melhor de nossa verdade. Eu estou- apesar de tudo oh apesar de tudo- estou sendo alegre neste instante-já que passa se eu não fixá-lo com palavras [..]

(Clarice Lispector)



quarta-feira, 15 de dezembro de 2010

Namorar...




Não existe coisa mais bacana que namorar. Sabe aquelas coisas de dá um beijinho na testa, acariciar os cabelos do outro, sair por aí de mãos dadas, olhar nos olhos com um profundo carinho, ouvir Bee Gees, Phil Collins, brega! Mas, tão necessário, enfim, sentir-se amada e amar... Amar sem reservas, amar com total entrega, ai que coisa boa!  Hoje acordei com essa vontade de vivenciar um amor, namorar... Vivo me dizendo que está só é muito bom, claro que também é, mas é inútil negar que ter alguém é mais gostoso ainda. Alguém pra ligar, alguém pra pensar, isso tudo é tão bom... 

segunda-feira, 13 de dezembro de 2010

Eu vivo


..há impossibilidade de ser além do que se é -
no entanto eu me ultrapasso mesmo sem o delírio,
sou mais do que eu, quase normalmente -
tenho um corpo e tudo que eu fizer é continuação
de meu começo......
a única verdade é que vivo.
Sinceramente, eu vivo.
Quem sou? Bem, isso já é demais...

(Clarice Lispector)

quinta-feira, 9 de dezembro de 2010

Tentação...



À tarde, sentada nos degraus de uma escada, em rua deserta do Grajaú, a menininha pobre, ruiva, solitária estava com um soluço seco a incomodá-la.
Nisso, veio passando um cachorro basset ruivo. Parou diante da menina, sem latir. Fitaram-se mudamente. Sem emitir som, eles se pediam: um solucionaria o problema de solidão do outro.
O cachorro foi embora. Incrédula, os olhos da menina acompanharam-no até vê-lo dobrar a outra esquina. “Mas ele foi mais forte do que ela. Nem uma só vez olhou para trás.”


(Clarice Lispector)



Solidão...




"Minha alma tem o peso da luz. Tem o peso da música. Tem o peso da palavra nunca dita, prestes quem sabe a ser dita. Tem o peso de uma lembrança. Tem o peso de uma saudade. Tem o peso de um olhar. Pesa como pesa uma ausência. E a lágrima que não se chorou. Tem o imaterial peso da solidão no meio de outros."



(Clarice Lispector)





quarta-feira, 8 de dezembro de 2010

Quadrilha



João amava Teresa que amava Raimundo 
que amava Maria que amava Joaquim que amava Lili 
que não amava ninguém. 
João foi para os Estados Unidos, Teresa para o convento, 
Raimundo morreu de desastre, Maria ficou para tia, 
Joaquim suicidou-se e Lili casou com J. Pinto Fernandes 
que não tinha entrado na história.


(Carlos Drumond de Andrade)



A PAIXÃO SEGUNDO GH PÁG 13 E 14





Perder- se significa ir achando e nem saber o que fazer do que se for achando. As duas pernas que andam, sem mais a terceira que prende. E eu quero ser presa. Não sei o que fazer da aterradora liberdade que pode me destruir. Mas enquanto eu estava presa, estava contente? Ou havia, e havia, aquela coisa sonsa e inquieta em minha feliz rotina de prisioneira? Ou havia, e havia, aquela coisa latejando, a que eu estava tão habituada que pensava que latejar era ser uma pessoa. É? Também , também. Fico tão assustada quando percebo que durante horas perdi minha formação humana. Não sei se terei uma outra para substituir a perdida. 

(Clarice Lispector)


segunda-feira, 6 de dezembro de 2010

Uma rosa negra sozinha...



Gostaria de ter vc comigo, isso é tão pouco...
Mas não posso e não devo tentar te buscar



Dentro de mim


Estou procurando sempre ...
Eu sei que irei encontrar, não sei quando, nem a hora
Ah! Essa minha busca que não cessa, me apavora, mas preciso, necessito...



A Serpente


Esse sábado foi muito proveitoso, fui ao teatro, revi amigos...
Muito bom, ainda fiquei refletindo sobre o espetáculo, "A serpente", coisa de doido, ou melhor coisa de Nelson Rodrigues... O sexo como mola mestra, o q derruba barreiras, limites...


sexta-feira, 3 de dezembro de 2010

Sou...





"Sou o que se chama de pessoa impulsiva. Como descrever? Acho que assim: vem-me uma idéia ou um sentimento e eu, em vez de refletir sobre o que me veio, ajo quase que imediatamente. O resultado tem sido meio a meio: às vezes acontece que agi sob uma intuição dessas que não falham, às vezes erro completamente, o que prova que não se tratava de intuição, mas de simples infantilidade.
Trata-se de saber se devo prosseguir nos meus impulsos. E até que ponto posso controlá-los. [...] Deverei continuar a acertar e a errar, aceitando os resultados resignadamente? Ou devo lutar e tornar-me uma pessoa mais adulta? E também tenho medo de tornar-me adulta demais: eu perderia um dos prazeres do que é um jogo infantil, do que tantas vezes é uma alegria pura. Vou pensar no assunto. E certamente o resultado ainda virá sob a forma de um impulso. Não sou maduro bastante ainda. Ou nunca serei.”


(Calrice Lispector)

quarta-feira, 1 de dezembro de 2010

E...


"Corro perigo
Como toda pessoa que vive
E a única coisa que me espera
É exatamente o inesperado"

(Clarice Lispector)

O amor se rende aos nossos pés...

"Quando fazemos tudo para que nos amem e não conseguimos, resta-nos um último recurso: não fazer mais nada. Por isso, digo, quando não obtivermos o amor, o afeto ou a ternura que havíamos solicitado, melhor será desistirmos e procurar mais adiante os sentimentos que nos negaram. Não fazer esforços inúteis, pois o amor nasce, ou não, espontaneamente, mas nunca por força de imposição. Às vezes, é inútil esforçar-se demais, nada se consegue;outras vezes, nada damos e o amor se rende aos nossos pés. Os sentimentos são sempre uma surpresa. Nunca foram uma caridade mendigada, uma compaixão ou um favor concedido. Quase sempre amamos a quem nos ama mal, e desprezamos quem melhor nos quer. Assim, repito, quando tivermos feito tudo para conseguir um amor, e falhado, resta-nos um só caminho...o de mais nada fazer."

                                                   
                                 (Clarice Lispector )