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quinta-feira, 20 de outubro de 2011

Volare...

 
Pienso que un sueño parecido no volverá más
Y me pintaba las manos y la cara de azul
Y me improviso el viento rapido me llevo
Y me hizo a volar en el cielo infinito

Volaré, oh oh
Cantaré, oh oh oh oh
Nel blu dipinto de blu
Felice de stare lassù

Y volando, volando feliz
Yo me encuentro más alto
Más alto que el sol
Y mientras que el mundo
Se aleja despació de mi
Una música dulce
Se ha tocada solo para mí

Gypsy King

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terça-feira, 18 de outubro de 2011

Inscrição na areia



                          O meu amor não tem importância nenhuma. 
Não tem o peso 
nem de uma rosa de espuma!
Desfolha-se por quem?
Para quem se perfuma?
O meu amor não tem importância nenhuma.

Cecília Meireles 


Retrato





Eu não tinha este rosto de hoje,
assim calmo, 
assim triste, 
assim magro,
nem estes olhos tão vazios, 
nem o lábio amargo.
Eu não tinha estas mãos sem força, 
tão paradas e frias e mortas; 
eu não tinha este coração que nem se mostra. 
Eu não dei por esta mudança,
tão simples, 
tão certa, 
tão fácil:
Em que espelho ficou perdida a minha face?


Cecília Meireles 



Era uma vez...

Era uma vez uma linda moça que perguntou a um lindo rapaz:
Você quer casar comigo?
Ele respondeu: Não!
E a moça viveu feliz para sempre, foi viajar, fez compras, conheceu muitos outros rapazes, visitou muitos lugares, foi morar na praia, comprou outro carro, mobiliou sua casa, sempre estava sorrindo e de bom humor, nunca lhe faltava nada, bebia cerveja com as amigas sempre que estava com vontade e ninguém mandava nela.
O rapaz ficou barrigudo, careca, o pinto caiu, a bunda murchou, ficou sozinho e pobre, pois não se constrói nada sem uma MULHER.

Luis Fernando Veríssimo

sábado, 24 de setembro de 2011

Déjà vu


E não há razão que me governe
Nenhuma lei prá me guiar
Eu tô exatamente
Aonde eu queria estar...

(Pitty)

sexta-feira, 26 de agosto de 2011

Setembro...


Quando entrar setembro e a boa nova andar nos campos
Quero ver brotar o perdão onde a gente plantou juntos outra vez
Já sonhamos juntos semeando as canções no vento
Quero ver crescer nossa voz no que falta sonhar
Já choramos muito, muitos se perderam no caminho
Mesmo assim não custa inventar uma nova canção que venha nos trazer
Sol de primavera abre as janelas do meu peito
a lição sabemos de cor
só nos resta aprender...

Beto Guedes

terça-feira, 26 de julho de 2011

A canção tocou na hora errada...




A canção tocou na hora errada, e eu que pensei que eu sabia tudo, mas se é você eu não sei nada...
Quando ouvi a canção, era madrugada, eu vi você, até senti tua mão e achei até que me caia bem como uma luva, mas veio a chuva e ficou tudo tão desigual...
A canção tocou no rádio agora, mas você não pode ouvir por causa do temporal.
Mas guardei tuas cartas com letras de fôrma, mas já não sei de que forma mesmo você foi embora.
A canção tocou na hora errada, mas não tem nada não, eu até lembrei das rosas que dão no inverno..
Ana Carolina




quinta-feira, 30 de junho de 2011

Uma procura....




Procurei-te nas madrugadas deste inverno, receosa, sem lágrimas...O frio...eu tremia...  não te encontrei, mas, continuo a buscá-lo no meu mais íntimo ser... Busco com um sorriso nos lábios, com os braços estendidos para um abraço eterno, com o corpo quente para esquentar o teu, com as mãos sedentas por teu corpo, com a boca aberta para teus beijos...


eu, um ser...


Sou...


Sou uma filha da natureza:
quero pegar, sentir, tocar, ser.
E tudo isso já faz parte de um todo,
de um mistério.
Sou uma só... Sou um ser.

Clarice Lispector



terça-feira, 10 de maio de 2011

Silencio


Eu me calo. E no silêncio ecoa um grito oco. E nesse mesmo silêncio eu me escondo. Me deito sobre ele, me cubro com ele e durmo com ele...

Eu, um ser




quinta-feira, 21 de abril de 2011

No apartamento...


Sozinha no apartamento entre um gole e outro de vinho, navego na net, atendo telefone, recuso convites. Opção. Ouço um bom som... O pensamento não pára... Pensamento vagueia... Acendo um cigarro e trago. Trago o peso do mundo, da solidão que não me deixa só... Mas essa mesma solidão é a escolha mais perfeita que já fiz em toda a minha vida... No apartamento,  a moça, a mulher, a menina,  entre um gole e outro de vinho sente-se branda, sossegada, tranqüila e livre em um mundo só dela...

Eu...um ser


segunda-feira, 18 de abril de 2011

A alegria




A alegria me fascina. Adoro ver a alegria estampada no rosto das pessoas. Quando caminho pelas ruas e acontece de ver alguém com um sorriso escancarado, absorvo aquilo e me sinto feliz, sigo meu caminho com um pouco daquela alegria, daquele sorriso... O mesmo acontece quando vejo alguém triste, sinto uma tristeza infinita e levo um pouco daquilo também, por este motivo não consigo achar graça em alguém que cai, ou tropeça... Mas absorvendo a alegria dos outros, não só carrego como passo o dia e a noite com aquele sentimento que me fez tão bem, que me fez suspirar... Carrego toda a alegria do mundo, vale dizer que a minha alegria é um pouco de cada alegria encontrada...

Eu, um ser


segunda-feira, 11 de abril de 2011

um domingo...




"Um domingo de tarde sozinha em casa
dobrei-me em dois para a frente
- como em dores de parto
- e vi que a menina em mim estava morrendo.
Nunca esquecerei esse domingo.
Para cicatrizar levou dias.
E eis-me aqui. Dura, silenciosa e heroíca.
Sem menina dentro de mim."


(Clarice Lispector)



sexta-feira, 8 de abril de 2011

Outono


Está fazendo um dia lindo de outono. A praia estava cheia de um vento bom, de uma liberdade. E eu estava só. E naqueles momentos não precisava de ninguém. Preciso aprender a não precisar de ninguém. É difícil, porque preciso repartir com alguém o que sinto. O mar estava calmo. Eu também. Mas à espreita, em suspeita. Como se essa calma não pudesse durar. Algo está sempre por acontecer. O imprevisto me fascina.

Clarice Lispector


Necessário como a chuva...

"Ele disse: não chore que chorar enfraquece. Eu disse: mas às vezes é como a chuva que se precisa, 
quando tem estiagem demais e tudo fica muito seco."

Clarice Lispector


quinta-feira, 31 de março de 2011

“Sou tão misteriosa que não me entendo.”




“Através de meus graves erros — que um dia eu talvez os possa mencionar sem me vangloriar deles — é que cheguei a poder amar. Até esta glorificação: eu amo o Nada. A consciência de minha permanente queda me leva ao amor do Nada. E desta queda é que começo a fazer minha vida. Com pedras ruins levanto o horror, e com horror eu amo. Não sei o que fazer de mim, já nascida, senão isto: Tu, Deus, que eu amo como quem cai no nada.”

Clarice Lispector


sexta-feira, 25 de março de 2011

A Paixão segundo G.H. - Clarice Lispector



Eu chamava “máscara” de mentira, e não era: era a essencial máscara da solenidade. Teríamos de pôr máscaras de ritual para nos amarmos. Os escaravelhos já nascem com a máscara com que se cumprirão. Pelo pecado original, nós perdemos a nossa máscara.

Clarice Lispector




Mude...



Mude,
mas comece devagar,
porque a direção é mais importante
que a velocidade.

Sente-se em outra cadeira,
no outro lugar da mesa.
Mais tarde, mude de mesa.

Quando sair,
Procure andar pelo outro lado da rua.
Depois, mude de caminho,
ande por outras ruas,
calmamente,...

Clarice Lispector





Poema... Alma Perdida



"Eu, viva e tremeluzente como os instantes, acendo-me e apago, acendo e apago, acendo e apago. Só que aquilo que capto em mim tem, quando está sendo agora transposto em escrita, o desespero das palavras ocuparem mais instantes que um relance de olhar. Mais que um instante, quero o seu fluxo."


Clarice Lispector



sábado, 19 de março de 2011

Pertencer...




"Um amigo meu, médico, assegurou-me que desde o berço a criança sente o ambiente, a criança quer: nela o ser humano, no berço mesmo, já começou. 

Tenho certeza de que no berço a minha primeira vontade foi a de pertencer. Por motivos que aqui não importam, eu de algum modo devia estar sentindo que não pertencia a nada e a ninguém. Nasci de graça. 
Se no berço experimentei esta fome humana, ela continua a me acompanhar pela vida afora, como se fosse um destino. A ponto de meu coração se contrair de inveja e desejo quando vejo uma freira: ela pertence a Deus. 
Exatamente porque é tão forte em mim a fome de me dar a algo ou a alguém, é que me tornei bastante arisca: tenho medo de revelar de quanto preciso e de como sou pobre. Sou, sim. Muito pobre. Só tenho um corpo e uma alma. E preciso de mais do que isso. 
Com o tempo, sobretudo os últimos anos, perdi o jeito de ser gente. Não sei mais como se é. E uma espécie toda nova de "solidão de não pertencer" começou a me invadir como heras num muro. 
Se meu desejo mais antigo é o de pertencer, por que então nunca fiz parte de clubes ou de associações? Porque não é isso que eu chamo de pertencer. O que eu queria, e não posso, é por exemplo que tudo o que me viesse de bom de dentro de mim eu pudesse dar àquilo que eu pertenço. Mesmo minhas alegrias, como são solitárias às vezes. E uma alegria solitária pode se tornar patética. É como ficar com um presente todo embrulhado em papel enfeitado de presente nas mãos - e não ter a quem dizer: tome, é seu, abra-o! Não querendo me ver em situações patéticas e, por uma espécie de contenção, evitando o tom de tragédia, raramente embrulho com papel de presente os meus sentimentos. 
Pertencer não vem apenas de ser fraca e precisar unir-se a algo ou a alguém mais forte. Muitas vezes a vontade intensa de pertencer vem em mim de minha própria força - eu quero pertencer para que minha força não seja inútil e fortifique uma pessoa ou uma coisa. 
Quase consigo me visualizar no berço, quase consigo reproduzir em mim a vaga e no entanto premente sensação de precisar pertencer. Por motivos que nem minha mãe nem meu pai podiam controlar, eu nasci e fiquei apenas: nascida. 
No entanto fui preparada para ser dada à luz de um modo tão bonito. Minha mãe já estava doente, e, por uma superstição bastante espalhada, acreditava-se que ter um filho curava uma mulher de uma doença. Então fui deliberadamente criada: com amor e esperança. Só que não curei minha mãe. E sinto até hoje essa carga de culpa: fizeram-me para uma missão determinada e eu falhei. Como se contassem comigo nas trincheiras de uma guerra e eu tivesse desertado. Sei que meus pais me perdoaram por eu ter nascido em vão e tê-los traído na grande esperança. 
Mas eu, eu não me perdôo. Quereria que simplesmente se tivesse feito um milagre: eu nascer e curar minha mãe. Então, sim: eu teria pertencido a meu pai e a minha mãe. Eu nem podia confiar a alguém essa espécie de solidão de não pertencer porque, como desertor, eu tinha o segredo da fuga que por vergonha não podia ser conhecido. 
A vida me fez de vez em quando pertencer, como se fosse para me dar a medida do que eu perco não pertencendo. E então eu soube: pertencer é viver. Experimentei-o com a sede de quem está no deserto e bebe sôfrego os últimos goles de água de um cantil. E depois a sede volta e é no deserto mesmo que caminho!"


Clarice Lispector


quinta-feira, 17 de março de 2011

Quando chorar...




"Há um tipo de choro bom e há outro ruim. O ruim é aquele em que as lágrimas correm sem parar e, no entanto, não dão alívio. Só esgotam e exaurem. Uma amiga perguntou-me, então, se não seria esse choro como o de uma criança com a angústia da fome. Era. Quando se está perto desse tipo de choro, é melhor procurar conter-se: não vai adiantar. É melhor tentar fazer-se de forte, e enfrentar. É difícil, mas ainda menos do que ir-se tornando exangue a ponto de empalidecer. 

Mas nem sempre é necessário tornar-se forte. Temos que respeitar a nossa fraqueza. Então, são lágrimas suaves, de uma tristeza legítima à qual temos direito. Elas correm devagar e quando passam pelos lábios sente-se aquele gosto salgado, límpido, produto de nossa dor mais profunda. .."


Clarice Lispector



terça-feira, 8 de março de 2011

Por um quase





E como nasci? Por um quase. Podia ser outra. Podia ser um homem. Felizmente nasci mulher. E vaidosa. Prefiro que saia um bom retrato meu no jornal do que os elogios.Tenho várias caras. Uma é quase bonita, outra é quase feia. Sou um o quê? Um quase tudo.


Clarice Lispector


sábado, 12 de fevereiro de 2011

Única Chama



Busquei por ti em todos os lugares.
Refiz todos os ritos da imaginação,
Usando uma arquitetura de sons
Edificada no ritmo mais puro,
Para alcançá-lo no tempo.

Visitei o começo de tudo,
Procurando-te dentro das coisas.
Escrevi nossos nomes na árvore da vida
Marcando o princípio do encontro,
Num fio tênue dentro da primavera,
Enquanto a vida nos pensava.

A lâmina cortou cada trama
Que se emaranhou entre nós.
Mesmo assim fomos cegados
Pelo brilho dos cristais espelhados
Daqueles que vigiavam.

Passo a passo, desfiz as metáforas
Dos jardins suspensos,
Mas não te encontrei em nenhuma flor,
Ser alado ou espelho d`água.

Equilibrei-me no ar rarefeito
Das longínquas montanhas,
Para falar com as águias
Sobre o teu paradeiro
E só ouvi fórmulas entrecortadas,
Vindas da percepção dos pássaros migradores.

Vi o desenho de teus passos
Gravados nas pedras.
Dos sulcos saiam rios transparentes
Como vidro, que entravam em minha boca,
Cheios de pedidos.

Tornei-me líquida para acompanhar
A transformação do caminho do rio
E fui renascendo pela eternidade,
Buscando iluminar-me em ti.

Minha ânsia espiritual voava te buscando,
Pois eras o meu templo perdido.
Rodei como espiral atormentado,
Desdobrando-me para o teu encontro.

Um sonho incandescente e sedutor
Enfeitiçava o meu corpo,
E pensava acalmar-te como amante.
Acordei cada dia numa prece de busca,
Sob uma luz recolhida
Desse caminho desconhecido.

Suplicante segui tentando
Descobrir a ordem da vida e da morte,
E a pulso sustentei os dias,
Para encontrar-te ainda nesta vida
E sermos uma única chama.

Rachel Moraes
Blog Jornal o Rebate




sexta-feira, 11 de fevereiro de 2011

A Maçã no Escuro. Ed. Rocco. Pp. 163-164.




Mas o certo é que na desordem de um primeiro encontro houve um momento em que os dois, enfim esquecidos do que penosamente queriam copiar para a realidade, houve um momento não preparado por ambos, dom da natureza, em que ambos precisaram saber por que o outro era o outro, e se esqueceram de dizer “por favor”; um momento em que, sem um injuriar o outro, cada um tomou para si o que lhe era devido sem que um roubasse nada do outro, e isso era mais do que eles teriam ousado imaginar: isso era amor, com o seu egoísmo e sem este também não haveria dádiva. Um deu ao outro a avidez em ser amado, e se havia certa tristeza em submeter-se à lei do mundo, esta obediência também era a dignidade deles. (…)
Foi com um ar obediente e agradecido, como o de uma mulher, que ela avisou a Martim que ia remendar suas roupas. Sobretudo, obstinada, o que ela queria era prolongar-se no ambiente seguro que o homem, vivendo no depósito, ali terminara por criar: esporas no chão, a foice, botas enlameadas, mundo palpável. Pegando, calma, nas roupas a emendar, ela sentiu uma felicidade muito menor do que era capaz de sentir, mas tratava-se dessa coisa que se quer: concreta. Então ela o olhou: obrigada por você ser real, disseram seus olhos abertos.
O homem não entendeu, mas inflou um pouco o peito. Quanto a ela, agora poderia sem mentir usar a palavra amor, e com tanta esperança ingênua como se o desconhecesse. (…) Então a moça se levantou, como dando ao homem uma ordem de ir embora e deixá-la só.
— Você é meu dono, dizia o modo altivo e mudo como estava de pé, serena e sem humildade.
Ele pareceu entender, e ele não queria ser dono de ninguém, e assobiou disfarçando, depois olhou para os próprios sapatos: mulher era sempre mais impudica que um homem, ele encabulou. Ela estava nobre. “Teve o que quis”, pensou Martim ofendido na própria castidade e disfarçando-se com um novo assobio desajeitado. “Você é meu dono”, dizia com tirania o modo como ela estava de pé; ele grunhiu assentindo, incomodado, com vontade de se livrar dela. Os ombros dela eram finos e quebráveis, a pele de criança, e, como se ele tivesse quebrado a atualidade da moça, havia algo de antigo nela. (…)
E talvez porque sua submissão àquela mulher fosse o modo como ele próprio a submetia, ao sair do depósito Martim se tornara poderoso e vivido, e com alguma insolência.
Martim respirou profundamente como se até agora tivesse sido amordaçado. É que era doce e poderoso um homem sair e uma mulher ficar. Assim provavelmente é que deviam ser as coisas.

Clarice Lispector