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terça-feira, 31 de janeiro de 2012

Saudades...



Sinto saudades de tudo que marcou a minha vida.
Quando vejo retratos, quando sinto cheiros,
quando escuto uma voz, quando me lembro do passado,
eu sinto saudades...

Sinto saudades de amigos que nunca mais vi,
de pessoas com quem não mais falei ou cruzei...

Sinto saudades da minha infância,
do meu primeiro amor, do meu segundo, do terceiro,
do penúltimo e daqueles que ainda vou ter, se Deus quiser...

Sinto saudades do presente,
que não aproveitei de todo,
lembrando do passado
e apostando no futuro...

Sinto saudades do futuro,
que se idealizado,
provavelmente não será do jeito que eu penso que vai ser...

Sinto saudades de quem me deixou e de quem eu deixei!
De quem disse que viria
e nem apareceu;
de quem apareceu correndo,
sem me conhecer direito,
de quem nunca vou ter a oportunidade de conhecer.

Sinto saudades dos que se foram e de quem não me despedi direito!

Daqueles que não tiveram
como me dizer adeus;
de gente que passou na calçada contrária da minha vida
e que só enxerguei de vislumbre!

Sinto saudades de coisas que tive
e de outras que não tive
mas quis muito ter!

Sinto saudades de coisas
que nem sei se existiram.

Sinto saudades de coisas sérias,
de coisas hilariantes,
de casos, de experiências...

Sinto saudades do cachorrinho que eu tive um dia
e que me amava fielmente, como só os cães são capazes de fazer!

Sinto saudades dos livros que li e que me fizeram viajar!

Sinto saudades dos discos que ouvi e que me fizeram sonhar,

Sinto saudades das coisas que vivi
e das que deixei passar,
sem curtir na totalidade.

Quantas vezes tenho vontade de encontrar não sei o que...
não sei onde...
para resgatar alguma coisa que nem sei o que é e nem onde perdi...

Vejo o mundo girando e penso que poderia estar sentindo saudades
Em japonês, em russo,
em italiano, em inglês...
mas que minha saudade,
por eu ter nascido no Brasil,
só fala português, embora, lá no fundo, possa ser poliglota.

Aliás, dizem que costuma-se usar sempre a língua pátria,
espontaneamente quando
estamos desesperados...
para contar dinheiro... fazer amor...
declarar sentimentos fortes...
seja lá em que lugar do mundo estejamos.

Eu acredito que um simples
"I miss you"
ou seja lá
como possamos traduzir saudade em outra língua,
nunca terá a mesma força e significado da nossa palavrinha.

Talvez não exprima corretamente
a imensa falta
que sentimos de coisas
ou pessoas queridas.

E é por isso que eu tenho mais saudades...
Porque encontrei uma palavra
para usar todas as vezes
em que sinto este aperto no peito,
meio nostálgico, meio gostoso,
mas que funciona melhor
do que um sinal vital
quando se quer falar de vida
e de sentimentos.

Ela é a prova inequívoca
de que somos sensíveis!
De que amamos muito
o que tivemos
e lamentamos as coisas boas
que perdemos ao longo da nossa existência...

(Clarice Lispector)



quarta-feira, 25 de janeiro de 2012

Só o tempo...

Quem pode dizer aonde vai a estrada ?
Para onde vão os dias ?
Só o tempo

E quem pode dizer se o seu amor crescerá
conforme seu coração escolher ?
Só o tempo


Quem pode dizer porque seu coração suspira
conforme seu amor flutua ?
Só o tempo

E quem pode dizer porque seu coração chora
quando seu amor morre?
Só o tempo


Quem pode dizer quando os caminhos se cruzam
que o amor deve estar
em seu coração ?

E quem pode dizer quando o dia termina
se a noite guarda todo o seu coração ?
se a noite guarda todo o seu coração...


Quem pode dizer se o seu amor crescerá
conforme seu coração quiser ?
Só o tempo

E quem pode dizer aonde vai a estrada ?
Para onde vão os dias ?
Só o tempo

Quem sabe?
Só o tempo

Quem sabe?
Só o tempo

(Enya)

segunda-feira, 16 de janeiro de 2012

A poesia deitada sobre a cama



Quero a poesia assim
Deitada sobre a cama
Domada
Submissa
Quieta e flutuante
Neste momento é assim que a quero
Quero penetrá-la
Tocá-la
Forrar os espaços em branco
com a poesia deitada sobre a cama
Quero poder carregar a poesia
e fazer com que ela sinta o meu desejo
A poesia deitada deixará seu leito para se juntar
Ao meu sentimento e irá encontra os teus olhos

(Josi Vice)



Chuva

Chuva, caindo tão mansa,
Na paisagem do momento,
Trazes mais esta lembrança
De profundo isolamento.

Chuva, caindo em silêncio
Na tarde, sem claridade...
A meu sonhar d'hoje, vence-o
Uma infinita saudade.

Chuva, caindo tão mansa,
Em branda serenidade.
Hoje minh'alma descansa.
— Que perfeita intimidade!...

(Francisco Bugalho, in "Paisagem" )


SOMAIA - Acróstico


Sua beleza é única.
Os seus olhos, brilham com pedras preciosas
Marcante com sua força interior
Amar é sua meta
Incomparável
AMAR, AMAR, AMAR

(Marta Zacchi)




terça-feira, 10 de janeiro de 2012

Acordar, viver


Como acordar sem sofrimento?
Recomeçar sem horror?
O sono transportou-me
àquele reino onde não existe vida
e eu quedo inerte sem paixão.


Como repetir, dia seguinte após dia seguinte,
a fábula inconclusa,
suportar a semelhança das coisas ásperas
de amanhã com as coisas ásperas de hoje?


Como proteger-me das feridas
que rasga em mim o acontecimento,
qualquer acontecimento
que lembra a Terra e sua púrpura
demente?
E mais aquela ferida que me inflijo
a cada hora, algoz
do inocente que não sou?


Ninguém responde, a vida é pétrea.


Carlos Drummond de Andrade