Translate

sábado, 28 de dezembro de 2013

O Mundo Só se Dá para os Simples



Minha gula pelo mundo: eu quis comer o mundo e a fome com que nasci pelo leite — esta fome quis se estender pelo mundo e o mundo não se queria comível. Ele se queria comível sim — mas para isso exigia que eu fosse comê-lo com a humildade com que ele se dava. Mas fome violenta é exigente e orgulhosa. E quando se vai com orgulho e exigência o mundo se transmuta em duro aos dentes e à alma. O mundo só se dá para os simples e eu fui comê-lo com o meu poder e já com esta cólera que hoje me resume. E quando o pão se virou em pedra e ouro aos meus dentes eu fingi por orgulho que não doía eu pensava que fingir força era o caminho nobre de um homem e o caminho da própria força. Eu pensava que a força é o material de que o mundo é feito e era com o mesmo material que eu iria a ele. E depois foi quando o amor pelo mundo me tomou: e isso já não era a fome pequena, era a fome ampliada. Era a grande alegria de viver — e eu pensava que esta sim, é livre. Mas como foi que transformei sem nem sentir a alegria de viver na grande luxúria de estar vivo? No entanto no começo era apenas bom e não era pecado. Era um amor pelo mundo quando o céu e a terra são de madrugada, e os olhos ainda sabem ser tenros. Mas eis que minha natureza de repente me assassinava, e já não era uma doçura de amor pelo mundo: era uma avidez de luxúria pelo mundo. E o mundo de novo se retraiu e a isso chamei de traição. A luxúria de estar vivo me espantava na minha insónia sem eu entender que a noite do mundo e a noite do viver são tão doces que até se dorme.


Clarice Lispector, in Crónicas no 'Jornal do Brasil (1971)'

Foto editada por euzinha! 




quarta-feira, 27 de novembro de 2013

As sem-razões do amor




Eu te amo porque te amo,

Não precisas ser amante,
e nem sempre sabes sê-lo.
Eu te amo porque te amo.
Amor é estado de graça
e com amor não se paga.


Amor é dado de graça,
é semeado no vento,
na cachoeira, no eclipse.
Amor foge a dicionários
e a regulamentos vários.


Eu te amo porque não amo
bastante ou demais a mim.
Porque amor não se troca,
não se conjuga nem se ama.
Porque amor é amor a nada,
feliz e forte em si mesmo.


Amor é primo da morte,
e da morte vencedor,
por mais que o matem (e matam)
a cada instante de amor.


Carlos Drummond de Andrade


sexta-feira, 22 de novembro de 2013

Cativeiro


Sabes de mim passarinho
Mais que me próprio sei
Sabes do meu olhar

Que jamais te perde
E desta minha boca
Que sussurra o teu nome
Como quem acaricia com beijo
Os contornos da própria alma

Afinal, és um pássaro tão delicado
E há tanta candura neste teu olhar
Que te queria somente para mim

Porém nada será mais que desejo
Logo fantasias não são realidades
Assim como a água não é o vinho
Pois há muitos mistérios envolvidos
Contidos num labirinto de questões

O que sei é que teu poder deslumbra
Quando pousas em meu pensamento
E gorjeias a canção que me quer feliz

Então eu apenas te olho e nos sorrimos
Quando vergas as asas e ganhas os céus
E mergulhas num voo de casta liberdade
Para os olhos que obsessivos te desejam

Mas não te querem pássaro em cativeiro

Véio China




Rota


Ah, coração!
Coração que pulsou
Coração que verteu
Coração que procurou versos

Ah, emoção!
Emoção que senti
Emoção que sorriu
Emoção que calou e percebeu

Que bem ao meu lado
Numa linha escondida
A mais simples poesia
Verso que tanto queria

A poesia, meu anjo...
A poesia faremos nós numa sinuosa estrada
Onde ainda não vemos marcas no horizonte
Mas apenas pegadas do meu amor por você

Véio China


terça-feira, 19 de novembro de 2013

segunda-feira, 18 de novembro de 2013

Pablo Neruda




Tenho fome de tua boca, de tua voz, de teu pêlo
e por estas ruas me vou sem alimento, calado,
não me nutri o pão, a aurora me altera,
busco o som líquido de teus pés neste dia.
Estou faminto de teu riso resvalado,
de tuas mãos cor de furioso silo,
tenho fome da pálida pedra de tuas unhas,
quero comer teu pé como uma intacta amêndoa.
Quero comer o raio queimado em tua formosura,
o nariz soberano do arrogante rosto,
quero comer a sombra fugaz de tuas sobrancelhas.
e faminto venho e vou olfateando o crepúsculo
buscando-te, buscando teu coração quente

como uma puma na solidão de Quitratúe.


sexta-feira, 25 de outubro de 2013

Lágrimas ocultas


Se me ponho a cismar em outras eras
Em que ri e cantei, em que era q'rida,
Parece-me que foi noutras esferas,
Parece-me que foi numa outra vida...

E a minha triste boca dolorida
Que dantes tinha o rir das Primaveras,
Esbate as linhas graves e severas
E cai num abandono de esquecida!

E fico, pensativa, olhando o vago...
Toma a brandura plácida dum lago
O meu rosto de monja de marfim...

E as lágrimas que choro, branca e calma,
Ninguém as vê brotar dentro da alma!
Ninguém as vê cair dentro de mim!


Florbela Espanca
 




quarta-feira, 2 de outubro de 2013

Clarice Lispector


Mas  tantos defeitos tenho. Sou inquieta, ciumenta, áspera, desesperançosa, Embora amor dentro de mim eu tenha... Só que não sei usar amor: às vezes parecem farpas...

domingo, 22 de setembro de 2013

Clarice Lispector


Que minha solidão me sirva de companhia.
que eu tenha a coragem de me enfrentar.
que eu saiba ficar com o nada
e mesmo assim me sentir
como se estivesse plena de tudo.


sexta-feira, 13 de setembro de 2013

Pablo Neruda


Fui como um ferido pelas ruas até que compreendi
que havia encontrado amor,
meu território de beijos e vulcões.

Pablo Neruda


quinta-feira, 29 de agosto de 2013

Ausência




Eu deixarei que morra em mim o desejo de amar os teus olhos que são doces
Porque nada te poderei dar senão a mágoa de me veres eternamente exausto.
No entanto a tua presença é qualquer coisa como a luz e a vida
E eu sinto que em meu gesto existe o teu gesto e em minha voz a tua voz.
Não te quero ter porque em meu ser tudo estaria terminado.
Quero só que surjas em mim como a fé nos desesperados
Para que eu possa levar uma gota de orvalho nesta terra amaldiçoada
Que ficou sobre a minha carne como nódoa do passado.
Eu deixarei... tu irás e encostarás a tua face em outra face.
Teus dedos enlaçarão outros dedos e tu desabrocharás para a madrugada.
Mas tu não saberás que quem te colheu fui eu, porque eu fui o grande íntimo da noite.
Porque eu encostei minha face na face da noite e ouvi a tua fala amorosa.
Porque meus dedos enlaçaram os dedos da névoa suspensos no espaço.
E eu trouxe até mim a misteriosa essência do teu abandono desordenado.
Eu ficarei só como os veleiros nos pontos silenciosos.
Mas eu te possuirei como ninguém porque poderei partir.
E todas as lamentações do mar, do vento, do céu, das aves, das estrelas.
Serão a tua voz presente, a tua voz ausente, a tua voz serenizada.


Vinicius de Moraes

segunda-feira, 26 de agosto de 2013

E eu...




"E eu tinha resolvido que ia dormir
para poder sonhar,
estava com saudade das novidades
do sonho."


Clarice Lispector



quarta-feira, 21 de agosto de 2013

No fundo...





“No fundo, as relações entre mim e ti
Cabem na palma da mão:
Onde teu corpo se esconde e de onde,
Quando sopro por entre os dedos,
Foge como fumo
Um pequeno pássaro,
Ou um simples segredo
Que guardávamos para a noite”


Nuno Júdice


terça-feira, 6 de agosto de 2013

Efêmera Eternidade



A mão dele estendida
Foi prontamente aceita por ela
Puxou-a de encontro ao seu corpo
E ela foi lentamente atraída até ele
Tocou suavemente sua pele macia
Ela permitiu-se um breve arrepio

Deslizou os dedos em suas costas desnudas
Sentiu um calor que lhe subia a espinha
Pousou sua mão delicadamente por sobre o vestido
Olhou-o nos olhos, sem palavras,
Encostou seu rosto no dela
Apreciou o calor que emanava dele

Conduziu-a firmemente pela mão
Deixou-se levar caminhando em nuvens
Delicadamente descobriu seus segredos
Saboreou, de olhos fechados, a sensação de tê-lo
Beijou-lhe até não poder mais
Entregou-se até sentir-se somente dele

Rodopiaram em frenesi
Em compassada loucura
Entre calor e desejo
Delírios e beijos
Música e prazer
Exaustão...

A mão dele pousada sobre ela
Os olhos dela fitando os dele
Um sorriso trocado entre carinhos
Um sussurro dele
Um suspiro dela

E a sensação de eternidade...


 Cau Alexandre



quarta-feira, 31 de julho de 2013

terça-feira, 30 de julho de 2013

Carlos Drummond de Andrade


A minha vontade é forte, mas a minha disposição 
de obedecer-lhe é fraca.

Carlos Drummond de Andrade



domingo, 21 de julho de 2013

Sem palavras...

                      
                                                          Eu em meu mundo...
                                                                 só e só
                                                                 Só maia
                                                                

segunda-feira, 8 de julho de 2013

Masoquismo



Passados
Não se extinguem à meia noite
Mas na simplicidade
da água saudade
Que o piscar dos olhos propicia

E o passado também se lê no amor que morre
Por vezes assassinado de tão necessário
Que tê-lo sepulto em cova profunda
Abaixo do concreto das todas emoções
Torna-se vital questão de sobrevivência

Contudo, humano que somos
Não esperemos que após fenecido
O amor alce vôo à galáxias distantes
Ou asse em alumínio e fogo brando
Das azeitadas panelas do diabo

Todavia impõe o imprevisível bom senso
Fazer-nos retornar ao fim do terceiro dia
À caça de lazaras fendas nos veios do cimento
Pois comum a este nobre e profano sentimento
É ressuscitar-nos para outros tantos sofrimentos
 
 
Véio China
 
 

domingo, 7 de julho de 2013

Não se mate.


Carlos sossegue, o amor
é isso que você está vendo׃
Hoje beija, amanhã não beija,
depois de amanhã é domingo
e segunda-feira ninguém sabe o que será.

Inútil você resistir
ou mesmo suicida-se.
não se mate, oh não se mate,
reserve-se todo para
as bodas que ninguém sabe
quando virão,
se é que virão.

O amor Carlos, você telúrico,
a noite passou em você,
E os recalques se sublimando,
Lá dentro um barulho inefável,
Rezas, vitrolas, santos que se persignam
Anúncios do melhor sabão,
barulho que ninguém sabe
de que, pra quê.

Entretanto você caminha
melancólico e vertical.
Você é a palmeira, você é o grito
que ninguém ouviu no teatro
e as luzes todas se apagam.
O amor no escuro, não, no claro,
É sempre triste, meu filho, Carlos
Mas não diga nada a ninguém,
Ninguém sabe nem saberá.


Carlos Drummond de Andrade



Poema do livro Reunião – 10 livros de poesia. São Paulo – José Olympio, 1969. p. 26

domingo, 19 de maio de 2013

Esvaindo-se



Esvaindo-se
perdido entre meus dedos
vai-se embora lentamente
como líquido a escorrer
assim vai sentimento
lentamente escapando
Como copo que quebrou

Meu dedo cortado pingando
misturando vinho e sangue
escorrendo tortuosamente
sulcando a terra
a cada momento afasta-se mais
aumenta a distancia
aprofunda-se a vala entre nós dois

Não importa mais
se você está do meu lado
ou do outro lado do mundo
afinal nossos mundos não se cruzam mesmo
como paralelas correndo sem jamais se tocarem

Sentimento que sufoca
Aperto lento na alma
Amor que vai embora
Esvaindo-se...


Afonso


sexta-feira, 3 de maio de 2013

domingo, 28 de abril de 2013

Quero escrever o borrão vermelho de sangue



Quero escrever o borrão vermelho de sangue
com as gotas e coágulos pingando
de dentro para dentro.
Quero escrever amarelo-ouro
com raios de translucidez.
Que não me entendam
pouco-se-me-dá.
Nada tenho a perder.
Jogo tudo na violência
que sempre me povoou,
o grito áspero e agudo e prolongado,
o grito que eu,
por falso respeito humano,
não dei.


Mas aqui vai o meu berro
me rasgando as profundas entranhas
de onde brota o estertor ambicionado.
Quero abarcar o mundo
com o terremoto causado pelo grito.
O clímax de minha vida será a morte.


Quero escrever noções
sem o uso abusivo da palavra.
Só me resta ficar nua:
nada tenho mais a perder.

Clarice Lispector


quarta-feira, 24 de abril de 2013

Fragmentos do Livro A Hora da Estrela



Se tivesse a tolice de se perguntar “quem sou eu” cairia estatelada no chão (...)
Só uma vez se fez uma trágica pergunta: quem sou eu. Assustou-se tanto que parou completamente de pensar. (...)
“Essa moça não sabia que ela era o que era, assim como um cachorro não sabe que é cachorro. Daí não se sentir infeliz. A única coisa que queria era viver. Não, sabia para quê, não se indagava. (...)
Sua vida era uma longa meditação sobre o nada. Só que precisava dos outros para crer em si mesma, senão se perderia nos sucessivos e redondos vácuos que havia nela. (...)
Encontrar-se consigo própria era um bem que até então ela não conhecia.(...)

Clarice Lispector



Vem - Vanessa da Mata



Brincando de editar vídeo...

Somaia Gonzaga

quinta-feira, 18 de abril de 2013

Perfumes



Nos meus olhos há lágrimas. Lágrimas que olham para a porta da sala, testemunha viva das malas que há pouco exilaram junto de ti. Porém a ausência não tolhe o rastro do teu perfume favorito, teimoso, que insiste ficar como seu eu fosse a viúva duma fragrância que fere e causa dor.
Não há como negar e me sinto a chaga do mundo, ferida que não cicatriza, a dor que persiste, mas que diz que há vida lá fora e sons como esses que eclodem na janela, gotas duma mesma chuva que se inunda dentro de mim
Ainda parada à passagem da sala, penso, repenso, e é tanta a dor, o que faço?
Maldito seja o que não não sai de dentro de mim! Maldito sejas tu e o teu perfume preferido que o meu amor abomina, mas que persiste dentro de mim e ganha os quartos e corredores a cada um dos meus passos, sufocando-me, confundindo, me assassinando.
Logo, me sinto mal e não mais quero respirar esse passado de poucas horas, então saio e vou à procura de ar, algum lugar que me faça sentir livre do peso da  idolatria que nutro por ti.
Pela mesma porta da sala alcanço o quintal e me misturo às águas da chuva e à fúria dos raios e trovões. Sim, sei que tenho pavor do estrondo que produzem, mas, mesmo que me amedrontem não arredo pé. Portanto deixo a chuva molhar minhas roupas, o rosto, tocar meus lábios num momento que não é bom, é agonia, é meu desespero, destempero que me lesa frações ocultando descobertas, relegando-me ao melancólico descaso do amor.
Ainda estou frágil sob os rancores duma tempestade que mal inicia e tento evitar o desalento e não consigo, já que  desencontrada de mim sinto-me distante daquilo que fui.
Sem saber como agir retorno para dentro da casa, e lá inesperadamente o teu cheiro me nauseia, enoja, e que sem motivo lembro dos teus olhos, e eles são lindos, mas estão tão longe.
E é esta imagem de olhar vagabundo que tatua minhas certezas e me faz concluir que estando próximo estiveste tão ausente que jamais notaste a mulher que te amou.
Sim, essa é a  verdade e estou tão molhada e tonta como barata intoxicada, então entro e saio de quartos, inspeciono corredores e retorno à sala acompanhada dum choro que me pede paciência e a necessidade do tempo. Não preciso de tempo! Irrito-me num lamento de leoa ferida à merce do último disparo. Surpreendentemente foi o momento que as gotas estancam e estacionam em meus lábios e me  incomodam  obrigando-me tocá-las com a ponta da língua, e lhes sinto o gosto de sabor quase insosso, sinal de que tudo é passível de mutação, pois já não deslizam tão salgadas.
Aturdida dirijo-me ao banheiro e acolho uma toalha de rosto, felpuda, e com ela vou à cozinha e preparo algo. Feito, retorno para sala com uma pequena caneca à mão e toalha ao ombro. Mas ali alguma coisa mudou e está diferente, pois não mais ouço o barulho da chuva e nem recende no ar o odor do teu perfume. Penso nisso por mais alguns instantes e um riso nervoso me escapa da boca junto de  duas lágrimas retardatárias; talvez teu rastro foi igualmente covarde e se dobrou a um  estimulante aroma de coisa fresca. - Boa viagem querido! - Murmuro-te o meu desejo e enxugo com as felpas aquele solitário par de gotas.
Agora descanso a toalha no braço do sofá num mesmo instante que desponta em mim esse sorriso triste, nostálgico,  conformado até, mas voluntarioso quando sorvo um longo gole do café ainda quente.


Véio China


quarta-feira, 27 de março de 2013

sexta-feira, 22 de março de 2013

Olhe...



"Olhe, tenho uma alma muito prolixa e uso poucas palavras.
Sou irritável e firo facilmente.
Também sou muito calmo e perdôo logo.
Não esqueço nunca.
Mas há poucas coisas de que eu me lembre"

Claarice Lispector


quinta-feira, 21 de março de 2013

Do livro: Uma aprendizagem ou o livro dos prazeres




“Minha verdade espantada é que eu sempre estive só de ti e não sabia. Agora sei: sou só. Eu e minha liberdade que não sei usar. Grande responsabilidade da solidão. Quem não é perdido não conhece a liberdade e não a ama. Quanto a mim, assumo a minha solidão”

Clarice Lispector


quarta-feira, 6 de março de 2013

Eu...




Eu sou uma pergunta... Sou tudo o que não tem explicação.
Sou alguém em constante construção.


Clarice Lispector

sábado, 23 de fevereiro de 2013

Cativeiro



Sabes de mim passarinho
Mais que me próprio sei
Sabes do meu olhar

Que jamais te perde
E desta minha boca
Que sussurra o teu nome
Como quem acaricia com beijo
Os contornos da própria alma

Afinal, és um pássaro tão delicado
E há tanta candura neste teu olhar
Que te queria somente para mim

Porém nada será mais que desejo
Logo fantasias não são realidades
Assim como a água não será vinho
Pois há tantos mistérios envolvidos
Contidos em labirintos de questões

O que sei é que teu poder deslumbra
Quando pousa em meu pensamento
E gorjeia a canção que me quer feliz

Então eu apenas te olho e nos sorrimos
Quando vergas as asas e ganhas os céus
E mergulhas num voo de casta liberdade
Para os meus olhos que te desejam tanto
Mas não te querem pássaro em cativeiro


Véio China

quarta-feira, 20 de fevereiro de 2013

O amor antigo



O amor antigo vive de si mesmo,
não de cultivo alheio ou de presença.
Nada exige nem pede. Nada espera,
mas do destino vão nega a sentença.

O amor antigo tem raízes fundas,
feitas de sofrimento e de beleza.
Por aquelas mergulha no infinito,
e por estas suplanta a natureza.

Se em toda parte o tempo desmorona
aquilo que foi grande e deslumbrante,
o antigo amor, porém, nunca fenece
e a cada dia surge mais amante.

Mais ardente, mas pobre de esperança.
Mais triste? Não. Ele venceu a dor,
e resplandece no seu canto obscuro,
tanto mais velho quanto mais amor.

Carlos Drummond de Andrade



sexta-feira, 15 de fevereiro de 2013

Queroooo...



Não quero ter a terrível limitação de quem vive apenas do que é passível de fazer sentido. Eu não: quero uma verdade inventada.

Clarice Lispector