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quinta-feira, 27 de julho de 2017

1625 Km de distância e outras mais...




      Seus dias eram mornos e o tempo esvaia-se em sofreguidão.  Dir-se-ia que por ausência dos riscos. Riscos esses que adornam a vida e resgatam o sabor do primeiro olhar, do primeiro beijo e arritmia da pulsação. Seu coração batia seco. Sentia-se morta-viva como um vampiro em busca de sangue para sua própria existência, com a discrepância de que o vampiro ao menos procurava e ela nada fazia.  Mas isso não a incomodava, apreciava seu ostracismo cinza, e foi assim por vários anos. No entanto, a vida brota em cada amanhecer e muda constantemente e com ela não poderia ser diferente.  Era manhã de março quando Dan aproximou-se para beijá-la, essa tentativa lhe causou repulsa e isso a germinou.
      Sim, renasceu entre os muros de si mesma. Mudou-se. Novo apartamento, novas roupas. Tinha voltado para ela e estava feliz.  Cotidianamente repetia ao despertar: “a-cor-dei”, referindo-se ao abrir dos olhos e a percepção de cores em sua atual vida. Estava só e amava este universo. Todavia, ela era uma pessoa, e como tal, cheia de quereres. E novamente quis arriscar, desejava mais, algo que a desmontasse e simultaneamente a construísse. Ficar só já não era satisfatório, tencionava amar. Houve várias tentativas, talvez, mais dos pretendentes, do que dela própria. Angustiada, constatou de que estava medrosa, dava voltas em seu quarto e dentro de si, perdida não sabia agir, falta-lhe pernas.
      Nesse ínterim conheceu João, um homem comum, mas, de poder singular. Quase nunca sorria e mesmo o sentindo circunspecto aquele alguém paulatinamente foi desagregando a rocha que sempre foi. Sim, ela não conhecia o desassossego, a insegurança e o ciúme tão costumeiros às paixões, pois quando despertava amores, não os sentira de fato. Seus romances iam até ao seu esgotamento mental, que, diga-se de passagem, não sobreviviam a uma estação. Às vezes o que a motivava ao término de um enlace era apenas cansaço do “mesmismo”, em outras, tudo a incomodava. Era frequente depreciar a alguns que confessavam carinho,  muito embora tenha convivido anos com seu ex-marido que interrompeu, por um tempo, sua busca incessante em vivenciar a sua solitude, ou possivelmente , tenha, na época, se apaixonado, não se sabe ao certo.
     O fato é que João atingira a pedra com exatidão e Maria custou a aceitar de que estava fascinada até experimentar o que nunca sentira: ciúmes. E ela chorou por sucessivos outonos e invernos. Percebeu-se menina, cheia de medos e desprotegida. Não era mais a moça desdenhosa e solta que fora. Não existia fadiga para os encontros, aliás, ansiava por eles. Não foi meramente uma fase. Agora Maria pertencia. E mesmo que João não a cobiçasse mais, não havia o que mudar. Seu pensamento, sua essência pertenciam a João. Entretanto, essa não é uma história de um amor habitual com final feliz, pois houve uma longa pausa, que suscitou para ambos, outros acontecimentos, e há distâncias entre os personagens em questão, muitas inclusive. Por ele, ela digladiou. Lutou para não amá-lo e depois, em vão, para esquecê-lo. Mas, apesar de não ser um relato de realizações para os dois, visto que nem sabemos das considerações de João e sentimentos para com ela, certamente esse indivíduo “sui generis” lapidou a protagonista que era somente uma criatura, transformando-a em um ser humano.
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Somaia Gonzaga



sexta-feira, 21 de julho de 2017

Florir


As gotas que caem sobre meu corpo
Lavam minh' alma
Provocando algo indecifrável...
E assim deixo-me ser regada.
É que com a chuva eu floresço.

Somaia Gonzaga

domingo, 9 de julho de 2017

Ponto final.




E quando o amor finda,
Leva consigo um pouco da gente,
Deixando uma porção dele mesmo,
No peito que chora e consente a despedida.

Nada de amarguras ou tristezas,
Resta a lembrança das alegrias vividas
Mesmo com a dor da partida.

E é quando a paz me enche a alma,
Ao recordar daquele sorriso que tanto me encantava.



Somaia Gonzaga