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sábado, 25 de fevereiro de 2017

Vestígios de você...



Um leve suspirar e um sorriso acanhado,
Boa música, um lugar, pessoas.
O pensamento vagueia e traz você na cabeça.
Trilho a calçada da vida,
Um brinde! Dirias.
Sorvo o chope em homenagem.
Fecho os olhos nostálgica,
Sonho... Sorrisos e falas...
Acordo e  jogo uma piada monótona e chata.
Represento, tenho alma, sou artista.
Camuflo lembranças em reserva,

De um sentimento desmedido que não cessa.

Somaia Gonzaga


segunda-feira, 20 de fevereiro de 2017

Ao ícone jazzistíco



Partistes Jarreau,
Deixando  “Morning” in my mind.
Paz…
Que suscita perante seus acordes.
E circunda meu íntimo universo.
Que essa serenidade transbordante
Ilumine-o em sua nova jornada.




Somaia Marguerite Gonzaga



domingo, 12 de fevereiro de 2017

Segundos, minutos, horas e uma existência.




  Caminhavam absortas, apreciando o entardecer singular daquele litoral. Já cansadas do passeio, sentaram-se sobre um barco ancorado a beira-mar. Alice, sua amiga desde a infância, era tagarela, e um passeio de quase meia hora em absoluto silencio já era muito bom, pensou, enquanto usufruía com serenidade daquele instante. Percebeu que a mesma estava inquieta, talvez a falta de assunto a enfadasse, preocupou-se, entretanto, sentia que por hora precisava da quietude, o barulho do cotidiano a estressava e o crepúsculo era um convite a apreciação.  Num átimo, Alice pôs-se de pé, cruzou a praia e começou a molhar os seus pés na espuma marinha, como num ritual em homenagem a vida.
  Ana observou a locomoção da moça ao passo que refletia.  Ah vida... Ocorreu-lhe o refrão de uma música de Gonzaguinha. “...vida, vida, vida... que seja do jeito que for, mar, amar, amor...” Lembrou-se do compositor que tanto exaltou a vida, mas que por ironia do destino teve uma existência breve, bem como, passam os anos e toda uma existência, considerou.
  Viver... Refletiu, enquanto observava o vaivém das ondas que lambiam a areia fina e branca da praia. Para ela, sobreviver era apenas ter a consciência de estar em contínuo aprendizado, vivenciando todos os momentos como únicos e experimentando em cada partícula do ser, as conseqüências dos erros e acertos, tão necessários como o próprio tempo. Nunca conheceu alguém que fosse um eterno sofredor, nem mesmo uma pessoa totalmente feliz, o que a fez deduzir que a vida é dinâmica,  cercada dos “sim” e dos “não” ou ainda dos “talvez”. Assim sendo, viver era ser completo sem estar pleno. Era ser, estar e sentir. Concluiu.
  Seus pensamentos foram interrompidos, com a proximidade de Alice que surgiu com um sorriso largo e de uma alegria quase infantil. Lá vem conversa, presumiu. Freneticamente Alice acercou-se e de pronto indagou:
- E aí? Cadê o amor? – Interpelou com simpatia.
- Está aqui. -  Respondeu-lhe calmamente.
-É? Onde? -  Perguntou a outra curiosa e percorrendo os olhos por toda orla.
Sorriu, ao perceber o espanto da mulher que depois de inspecionar o ambiente a olhava com olhos arregalados, diante de sua afirmativa. E foi com o olhar fixo ao mar que explicou serena:
- Está aqui em meu peito, guardado a sete chaves.
- Como? Ah! Já sei! Não é correspondida? – Sondou compadecida.
- Está falando em um homem? -  Ironizou. Sabia o que ela investigava, no entanto, resolveu brincar um pouco.
- Está falando de uma mulher? A outra não se continha de curiosidade e a cada segundo denotava apreensão.
- Alice... Meu amor está na vida. Amo tudo isso aqui. – replicou com entusiasmo.
- Ah bom! – suspirou meio que aliviada e continuou. – Não me respondeu Ana! Estou falando em um namorado... Sorriu maliciosamente.
- E eu da vida. - Devolveu o sorriso  - Existe coisa melhor do que esse sossego? Saio aos finais de semana com minhas amigas e me divirto. Volto pra casa tranqüila e durmo em paz. A cada dia me convenço que manter-se bem é vivenciar o que me causa alegria. Há tempos não namoro. Gosto do romantismo, do amor à moda antiga, da paquera, infelizmente percebo que as relações amorosas estão inexpressivas, ou pior, tornaram-se comerciais, o que é uma pena, vincular-me assim não me traria satisfação alguma. Não faz muito tempo, ainda acreditava que a minha felicidade se encontrava em outro alguém. Coitado! Quanta responsabilidade para o outro, não é mesmo? E que miserável eu seria! – Gargalhou. –  A idéia de que a nossa felicidade depende de uma relação , seja ela qual for,  elimina qualquer possibilidade de bem-estar íntimo. Em tempo, percebi que esse contentamento está em mim e isso independe de possuir uma companhia ou não. A Vida é muito mais que isso Alice. A vida é oportunidade de aprendizado, de disciplina, de autoconhecimento, de troca de conhecimentos e experiências. Limitar a vida a encontros e desencontros sexuais é regressar ao estágio animal. Não me vejo nesse patamar, entretanto, não censuro quem faz disso um esporte. – Escarneceu – Já amei muito, e guardo ótimas recordações, porém a vida segue e cada um procura o que é melhor para si mesmo. Você vai dizer que sinto falta e até concordo! Realmente algumas vezes, a gente se pega pensando em como seria encontrar uma pessoa na atual conjuntura, contudo, não lamento, nem festejo tal circunstancia. Sinceramente, o que realmente entendi é que o meu amor sou eu, falo isso sem orgulho ou egolatria, mas com a simplicidade de uma pessoa que acredita ter alcançado o mínimo de equilíbrio. A propósito, menos lenga-lenga e mais ação! Já está escurecendo e tratemos de voltar para casa, preciso de um banho e me trocar, hoje à noite vou ao Caranguejola, ver gente bonita, jogar conversa fora, espairecer!
  Levantou-se encerrando a conversa, moveu-se em direção a avenida e gesticulou para que a moça a seguisse. Compreendeu que seu argumento não agradou a sua interlocutora, uma vez que, o mutismo e o olhar eram de reprovação, ignorou, pois pensavam diferentes e ela respeitava a individualidade humana. Similarmente deduziu que a única coisa que fez brilhar o olhos de sua amiga foi o fato de ter mencionado  o restaurante que compareceria, pois que, de imediato a mesma pediu para acompanhá-la, e ao consentir-lhe a moça não parou mais de conversar e foi assim durante todo o percurso, articulando a roupa, sapato, bolsa, maquiagem que iria usar para a ocasião.  Cabisbaixa, Ana a ouvia e divertia-se com a velocidade e quantidade de palavras que saiam da boca daquela menina, nem sequer, uma pausa! Como pode uma pessoa falar tanto? Olhou-a tentando entender o motivo de tanta euforia. Será que ela estava cogitando arrumar um namorico no recinto? Queira Deus que arrume, ao menos ficaria mais concentrada no possível affair, impossibilitando-a de tagarelar! Caçoou, à medida que apressava seus passos, uma vez que ela também precisava organizar-se, já que havia muito a se viver.



Somaia Marguerite Gonzaga