Vi teu olhar... Desinteressado
talvez, mas que eclodiu em mim, um vulcão de sentimentos
adormecidos, pelo tempo e pelo cansaço. Um olhar apenas, no entanto, avivou aquilo
que nego despertar. Olhos castanhos, que acenderam a chama, que um dia me
fizeram emergir de mim mesma. Não há como negar, seu olhar ainda, somente ele, atordoa,
alicia, perturba... Sim, percebi seu olhar e desorientei-me em angustiadas lembranças.
Neste curso, encontrei uma saudade incessante e perdi meu chão, ousei gritar, entretanto,
fracassei, vencida pelas recordações afloradas. Precisei de ar, do seu ar... Caminhei
vagarosamente até a sala e abri as janelas, senti um vento impetuoso adentrar no
ambiente, abracei-me e neste ápice, seus olhos, mais uma vez, alcançaram os
meus. Olhos poderosos, que desconhecem a força, que até hoje, exercem sobre
esta mulher. O poder de uma águia, que me envolve e que em livre vôo lança-se no
infinito, solto e cativo unicamente pelos meus olhos, que silenciosos os seguem
atentos. Baixei a cabeça lentamente, a fim de desviar a atenção do pássaro, suspirei
resignada e perdida em devaneios, fechei as minhas janelas para não mais o olhar.
Somaia Gonzaga
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