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quinta-feira, 29 de agosto de 2013

Ausência




Eu deixarei que morra em mim o desejo de amar os teus olhos que são doces
Porque nada te poderei dar senão a mágoa de me veres eternamente exausto.
No entanto a tua presença é qualquer coisa como a luz e a vida
E eu sinto que em meu gesto existe o teu gesto e em minha voz a tua voz.
Não te quero ter porque em meu ser tudo estaria terminado.
Quero só que surjas em mim como a fé nos desesperados
Para que eu possa levar uma gota de orvalho nesta terra amaldiçoada
Que ficou sobre a minha carne como nódoa do passado.
Eu deixarei... tu irás e encostarás a tua face em outra face.
Teus dedos enlaçarão outros dedos e tu desabrocharás para a madrugada.
Mas tu não saberás que quem te colheu fui eu, porque eu fui o grande íntimo da noite.
Porque eu encostei minha face na face da noite e ouvi a tua fala amorosa.
Porque meus dedos enlaçaram os dedos da névoa suspensos no espaço.
E eu trouxe até mim a misteriosa essência do teu abandono desordenado.
Eu ficarei só como os veleiros nos pontos silenciosos.
Mas eu te possuirei como ninguém porque poderei partir.
E todas as lamentações do mar, do vento, do céu, das aves, das estrelas.
Serão a tua voz presente, a tua voz ausente, a tua voz serenizada.


Vinicius de Moraes

segunda-feira, 26 de agosto de 2013

E eu...




"E eu tinha resolvido que ia dormir
para poder sonhar,
estava com saudade das novidades
do sonho."


Clarice Lispector



quarta-feira, 21 de agosto de 2013

No fundo...





“No fundo, as relações entre mim e ti
Cabem na palma da mão:
Onde teu corpo se esconde e de onde,
Quando sopro por entre os dedos,
Foge como fumo
Um pequeno pássaro,
Ou um simples segredo
Que guardávamos para a noite”


Nuno Júdice


terça-feira, 6 de agosto de 2013

Efêmera Eternidade



A mão dele estendida
Foi prontamente aceita por ela
Puxou-a de encontro ao seu corpo
E ela foi lentamente atraída até ele
Tocou suavemente sua pele macia
Ela permitiu-se um breve arrepio

Deslizou os dedos em suas costas desnudas
Sentiu um calor que lhe subia a espinha
Pousou sua mão delicadamente por sobre o vestido
Olhou-o nos olhos, sem palavras,
Encostou seu rosto no dela
Apreciou o calor que emanava dele

Conduziu-a firmemente pela mão
Deixou-se levar caminhando em nuvens
Delicadamente descobriu seus segredos
Saboreou, de olhos fechados, a sensação de tê-lo
Beijou-lhe até não poder mais
Entregou-se até sentir-se somente dele

Rodopiaram em frenesi
Em compassada loucura
Entre calor e desejo
Delírios e beijos
Música e prazer
Exaustão...

A mão dele pousada sobre ela
Os olhos dela fitando os dele
Um sorriso trocado entre carinhos
Um sussurro dele
Um suspiro dela

E a sensação de eternidade...


 Cau Alexandre