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segunda-feira, 28 de dezembro de 2015

A um ausente



Tenho razão de sentir saudade,
tenho razão de te acusar.
Houve um pacto implícito que rompeste
e sem te despedires foste embora.
Detonaste o pacto.
Detonaste a vida geral, a comum aquiescência
de viver e explorar os rumos de obscuridade
sem prazo sem consulta sem provocação
até o limite das folhas caídas na hora de cair.


Antecipaste a hora.
Teu ponteiro enlouqueceu, enlouquecendo nossas horas.
Que poderias ter feito de mais grave
do que o ato sem continuação, o ato em si,
o ato que não ousamos nem sabemos ousar
porque depois dele não há nada?


Tenho razão para sentir saudade de ti,
de nossa convivência em falas camaradas,
simples apertar de mãos, nem isso, voz
modulando sílabas conhecidas e banais
que eram sempre certeza e segurança.


Sim, tenho saudades.
Sim, acuso-te porque fizeste
o não previsto nas leis da amizade e da natureza
nem nos deixaste sequer o direito de indagar
porque o fizeste, porque te foste.


Carlos Drummond de Andrade







domingo, 1 de novembro de 2015

Do sorriso da ela morena



Do sorriso da bela morena,
Eu guardei o pedaço do canto,
Perto dele pareço pequena,
Faço dele então meu recanto.

Um pedaço me parece tanto!
Quando junto à face serena.
Do sorriso da bela morena,
Eu guardei o pedaço do canto.

Dos apegos da fala amena,
Ao sublime timbre do canto.
E nos leva a navegar.. Querena ...
Pelas águas de doce encanto!
Do sorriso da bela morena.



Rejane Alves



sábado, 21 de fevereiro de 2015

Tempo de Estio


Hoje, lembrei-me do inverno que assolou os meus dias, de um céu cinza que desaguava continuamente e que transbordava os rios das emoções. Recordei das noites insones de frio, dos medos, das angústias infindas e os trovões que ecoavam no silêncio das madrugadas. Revivi os percursos trilhados e a lama que punia os meus passos, numa estrada íngreme e cansativa. Foi um tempo em que não havia frutos, nem flores, nem pássaros. E em mim, persistia apenas um intenso desejo de que o sol voltasse a brilhar. E foi com o canto de um pássaro solitário que o sol ensaiou seus primeiros raios. Meu caminho, vestindo-se de flores, secou. A natureza finalmente se espreguiça e renasce, deixando as madrugadas frias na lembrança... 
O ontem se faz presente e voa com o tempo no estio da estação.


Somaia Marguerite Gonzaga