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sábado, 23 de fevereiro de 2013

Cativeiro



Sabes de mim passarinho
Mais que me próprio sei
Sabes do meu olhar

Que jamais te perde
E desta minha boca
Que sussurra o teu nome
Como quem acaricia com beijo
Os contornos da própria alma

Afinal, és um pássaro tão delicado
E há tanta candura neste teu olhar
Que te queria somente para mim

Porém nada será mais que desejo
Logo fantasias não são realidades
Assim como a água não será vinho
Pois há tantos mistérios envolvidos
Contidos em labirintos de questões

O que sei é que teu poder deslumbra
Quando pousa em meu pensamento
E gorjeia a canção que me quer feliz

Então eu apenas te olho e nos sorrimos
Quando vergas as asas e ganhas os céus
E mergulhas num voo de casta liberdade
Para os meus olhos que te desejam tanto
Mas não te querem pássaro em cativeiro


Véio China

quarta-feira, 20 de fevereiro de 2013

O amor antigo



O amor antigo vive de si mesmo,
não de cultivo alheio ou de presença.
Nada exige nem pede. Nada espera,
mas do destino vão nega a sentença.

O amor antigo tem raízes fundas,
feitas de sofrimento e de beleza.
Por aquelas mergulha no infinito,
e por estas suplanta a natureza.

Se em toda parte o tempo desmorona
aquilo que foi grande e deslumbrante,
o antigo amor, porém, nunca fenece
e a cada dia surge mais amante.

Mais ardente, mas pobre de esperança.
Mais triste? Não. Ele venceu a dor,
e resplandece no seu canto obscuro,
tanto mais velho quanto mais amor.

Carlos Drummond de Andrade



sexta-feira, 15 de fevereiro de 2013

Queroooo...



Não quero ter a terrível limitação de quem vive apenas do que é passível de fazer sentido. Eu não: quero uma verdade inventada.

Clarice Lispector