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quarta-feira, 27 de novembro de 2013

As sem-razões do amor




Eu te amo porque te amo,

Não precisas ser amante,
e nem sempre sabes sê-lo.
Eu te amo porque te amo.
Amor é estado de graça
e com amor não se paga.


Amor é dado de graça,
é semeado no vento,
na cachoeira, no eclipse.
Amor foge a dicionários
e a regulamentos vários.


Eu te amo porque não amo
bastante ou demais a mim.
Porque amor não se troca,
não se conjuga nem se ama.
Porque amor é amor a nada,
feliz e forte em si mesmo.


Amor é primo da morte,
e da morte vencedor,
por mais que o matem (e matam)
a cada instante de amor.


Carlos Drummond de Andrade


sexta-feira, 22 de novembro de 2013

Cativeiro


Sabes de mim passarinho
Mais que me próprio sei
Sabes do meu olhar

Que jamais te perde
E desta minha boca
Que sussurra o teu nome
Como quem acaricia com beijo
Os contornos da própria alma

Afinal, és um pássaro tão delicado
E há tanta candura neste teu olhar
Que te queria somente para mim

Porém nada será mais que desejo
Logo fantasias não são realidades
Assim como a água não é o vinho
Pois há muitos mistérios envolvidos
Contidos num labirinto de questões

O que sei é que teu poder deslumbra
Quando pousas em meu pensamento
E gorjeias a canção que me quer feliz

Então eu apenas te olho e nos sorrimos
Quando vergas as asas e ganhas os céus
E mergulhas num voo de casta liberdade
Para os olhos que obsessivos te desejam

Mas não te querem pássaro em cativeiro

Véio China




Rota


Ah, coração!
Coração que pulsou
Coração que verteu
Coração que procurou versos

Ah, emoção!
Emoção que senti
Emoção que sorriu
Emoção que calou e percebeu

Que bem ao meu lado
Numa linha escondida
A mais simples poesia
Verso que tanto queria

A poesia, meu anjo...
A poesia faremos nós numa sinuosa estrada
Onde ainda não vemos marcas no horizonte
Mas apenas pegadas do meu amor por você

Véio China


terça-feira, 19 de novembro de 2013

segunda-feira, 18 de novembro de 2013

Pablo Neruda




Tenho fome de tua boca, de tua voz, de teu pêlo
e por estas ruas me vou sem alimento, calado,
não me nutri o pão, a aurora me altera,
busco o som líquido de teus pés neste dia.
Estou faminto de teu riso resvalado,
de tuas mãos cor de furioso silo,
tenho fome da pálida pedra de tuas unhas,
quero comer teu pé como uma intacta amêndoa.
Quero comer o raio queimado em tua formosura,
o nariz soberano do arrogante rosto,
quero comer a sombra fugaz de tuas sobrancelhas.
e faminto venho e vou olfateando o crepúsculo
buscando-te, buscando teu coração quente

como uma puma na solidão de Quitratúe.