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quarta-feira, 27 de maio de 2020

Uma tarde de chuva



     Era um dia como outro qualquer, chovia, o que não amenizava o clima tórrido daquela tarde. Estava irritadiça a ponto de explodir por qualquer motivo e passou a manhã, na empresa em que trabalhava, ansiando seu regresso ao lar. Que bom que cheguei, pensou, enquanto pagava ao motorista e descia do táxi. Entrou no edifício em que morava e subiu as escadas quase que correndo. Bom deparar com esse silêncio, suspirou, ao abrir a porta de seu apartamento. Entrou. Preciso de um banho, considerou e percorreu até seu quarto, atirou sua bolsa na poltrona, despiu-se do vestido azul,  bustiê e calcinha, depositando-os ali mesmo. Caminhou até ao banheiro, abriu o chuveiro, fechou os olhos e por algum tempo ficou ali imóvel apreciando a água que escorria sobre ela, aquilo lhe dava certo alívio. Apanhou o sabonete e começou a lavar-se. Suas mãos ensaboavam colo, barriga, coxas e seios que ao toque, enrijeceram.
     Foi tomada por um arrepio e um tilintar em sua cabeça. Sim. Estava no cio, ponderou.  O que era mais que natural, pois além de orgânico, há tempos não tinha uma vida sexual ativa. Desde sua separação não teve contato físico com nenhuma outra pessoa, e sua vida era resumida em trabalho, amigos e casa. Julgava os homens desprovidos de cérebro e vivia tediosos dias. Culpava-se, mas não arriscava, sentia desejo e reprimia, eclodindo apenas sozinha. Já ofegante e excitada acariciou seus mamilos e fantasiou a presença da boca, do rosto de um ser que há muito não encontrava, homem esse que talvez tenha sido sua única paixão. É, apesar de ter um conceito negativo sobre os homens, ela sabia que existiam exceções, e que aquele em questão, estava a salvo de seus errôneos julgamentos. Prosseguiu acariciando um dos mamilos, ao mesmo tempo em que descia, lentamente a outra mão até a sua vulva. A espuma do sabonete facilitava os movimentos em seu sexo e o tesão a impulsionou amparar uma de suas pernas na parede. A medida que estimulava seu clitóris, sua volúpia intensificava-se. Fantasiou aquele indivíduo diante dela, ajoelhado, passando a língua em toda a extensão de sua vagina, com movimentos suaves e ritmados. Beijando-a como quem beijava sua própria boca, encontrando seu clitóris e lambendo demoradamente, aumentando velocidade e pressão de forma progressiva. Que delícia! Sussurrou. Gemeu ensandecida, atingindo o seu primeiro orgasmo, o que não a deteve, pois ainda estava excitada. Concentrou-se mais uma vez em sua criação e o sentiu penetrando-a, sugando seus seios e sussurrando palavras desconcertantes.  E um outro grito de prazer ecoou no ambiente, mas sua sede não havia cessado e continuou a estimular seu sexo. Atingiu seu ápice ao imaginá-lo virando-a contra a parede, forçando-a empinar sua bunda para enterrar seu mastro nela. Simultaneamente segurava-a pelo quadril,  e puxava seus cabelos. Mordia, lambia sua nuca. Seus corpos bailavam num selvagem movimento de vai-e-vem. Naquele momento fingiu ouvir o homem apregoar: Puta gostosa! Vadia! Vou gozar dentro de sua boceta! Instintivamente ela gritou: Enche minha boceta de porra! E novamente gozou naquela tarde de chuva.
     Trêmula ainda, com a mão apoiada no boxe, aguardou que sua respiração e batimentos cardíacos voltassem a normalidade. Ainda sentia o pulsar em suas veias, os quereres, a tara, contudo não quis prosseguir e permaneceu ali por mais algum tempo. Já refeita, fechou o chuveiro,  apanhou sua toalha e enxugou-se. Em frente ao espelho, mirando-se, enquanto desembaraçava seus cabelos, pensou, hoje a noite ainda vou sonhar mais um pouco. No quarto procurou uma blusa, ao passo que pensou: Que fogo!  Sorriu desavergonhadamente, vestiu unicamente sua camiseta, deitou e dormiu.


Somaia Gonzaga



domingo, 10 de maio de 2020

Enclausurados


Precisamos de poesia
Um pouco de sol,
Perfume de rosa,
Das noites,
Dos dias.


Precisamos agora,
Daquele abraço afetuoso,
Dos sorrisos nos rostos,
Das crianças nas ruas,
Dos encontros para um bom papo,
Da massa,
Da corrida rotina.


Somaia Gonzaga