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segunda-feira, 3 de março de 2025

Cora Coralina - Homem Água e Homem Vinho




Em água e vinho se definem os homens.


Homem água. É aquele fácil e comunicativo.

Corrente, abordável, servidor e humano.

Aberto a um pedido, a um favor,

ajuda em hora difícil de um amigo, mesmo estranho.

Dá o que tem

– boa vontade constante, mesmo dinheiro, se o tem.


Não espera restituição nem recompensa.

É como água corrente e ofertante,

encontradiça nos descampados de uma viagem.

Despoluída, límpida e mansa.

Serve a animais e a vegetais.

Vai levada a engenhos domésticos em regueiras, represas e açudes.

Aproveitada, não diminui seu valor, nem cobra preço.

conspurcada seja, se alimpa pela graça de Deus

que assim a fez, servindo sempre

e à sua semelhança fez certos homens que encontramos na vida

– os Bons da Terra — Mansos de Coração.

Água pura da humanidade.


Há também, lado-a-lado, o homem-vinho.

Fechado nos seus valores inegáveis e nobreza reconhecida.

Arrolhado seu espírito de conteúdo excelente em todos os sentidos.

Resguardados seus méritos indiscutíveis.

Oferecido em pequenos cálices de cristal a amigos

e visitantes excelsos, privilegiados.

Não abordável, nem fácil sua confiança.

Correto. Lacrado.

Tem lugar marcado na sociedade humana.

Rigoroso.

Não se deixa conduzir — conduz.

Não improvisa — estuda, comprova.

Não aceita que o golpeiam,

defende-se antecipadamente.

Metódico, estudioso, ciente.


Há de permeio o homem vinagre,

uma réstia deles,

mas com esses, não vamos perder espaço.

Há lugar na vida para todos.