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domingo, 7 de julho de 2013

Não se mate.


Carlos sossegue, o amor
é isso que você está vendo׃
Hoje beija, amanhã não beija,
depois de amanhã é domingo
e segunda-feira ninguém sabe o que será.

Inútil você resistir
ou mesmo suicida-se.
não se mate, oh não se mate,
reserve-se todo para
as bodas que ninguém sabe
quando virão,
se é que virão.

O amor Carlos, você telúrico,
a noite passou em você,
E os recalques se sublimando,
Lá dentro um barulho inefável,
Rezas, vitrolas, santos que se persignam
Anúncios do melhor sabão,
barulho que ninguém sabe
de que, pra quê.

Entretanto você caminha
melancólico e vertical.
Você é a palmeira, você é o grito
que ninguém ouviu no teatro
e as luzes todas se apagam.
O amor no escuro, não, no claro,
É sempre triste, meu filho, Carlos
Mas não diga nada a ninguém,
Ninguém sabe nem saberá.


Carlos Drummond de Andrade



Poema do livro Reunião – 10 livros de poesia. São Paulo – José Olympio, 1969. p. 26

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