Apoiada à janela, observou atentamente
o brilho fascinante das luzes que iluminavam a calorosa noite. Vislumbrou o mar
e os coqueirais que bailavam com a melodia do vento. Analisou as pessoas que
caminhavam à beira-mar e algumas crianças que corriam, e outras que patinavam. Contagiou-se ao ver os
sorrisos estampados nos rostos, os abraços dados, os acenos... Apreciava testemunhar
os encontros e desencontros tão comuns ao cotidiano. Demorou-se assim, não sabe
por quanto tempo, contemplando o agradável cenário.
Vidas. Vidas regadas a angustias,
alegrias e medos. Quantos sentimentos são necessários para a consolidação de um
ser? Refletiu. Avistou o horizonte e sorriu ao recordar que ela mesma
experimentou com intensidade cada porção do “sentir” desencadeado ao longo dos
anos.
Absorta, ouve seu nome e delicadamente
volta-se para o quarto. Ele deitado, reclamou aconchego. De imediato, desprendeu-se
da paisagem, fechando as janelas. Caminhou com passos suaves até o leito,
sentando-se ao lado dele. Entreolharam-se, percebeu que ele estava sonolento,
encostou-se mais e com as mãos transportou a cabeça daquele homem, amparando-a sobre
suas coxas, ele obedeceu cerrando os olhos ao passo que balbuciou algo
inaudível, repousando por fim um dos braços em cima de suas pernas. Em silêncio
acariciou-lhe os cabelos grisalhos, mergulhando nas sensações que aquela proximidade
provocara por ininterruptas estações.
Ansiou por muito tempo aquele instante,
o que a fez agarrar-se ao momento ímpar com entusiasmo. Um turbilhão de
sentimentos eclodiu naquelas poucas horas em que os sentidos, agora, faziam
sentido. No entanto, um misto de
plenitude e desencanto digladiavam-se, em seu íntimo. Estavam, mas não seriam, lamentou.
A emoção vestindo-se de corsellet vermelho a conduziu até ali, entretanto, a
prudência, essa, trataria de levá-la sem arranhões para suas infinitas horas em
seu apartamento. Ambos sabiam, ele tinha que partir, mas a vida era feita de
idas e vindas, portanto não era motivo para tormentos, o instante era mágico e seria
eternizado, pensou. Não haveria dores, talvez restasse uma saudade, ou ainda
quem sabe, apenas uma boa recordação de um amor forçadamente amputado. Curvou-se
e beijou-lhe a fronte. Entre resmungos, ele lançou-se sobre o travesseiro, ao
lado. Sorrindo, virou-se lateralmente, apagando a luz do abajur. Deitou-se e abraçou aquele universo que não a
pertencia. Antes de dormir, sussurrou-lhe ao ouvido: Meu sonho, amanhã é dia de
acordar.
Somaia Gonzaga
11/08/2016
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